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Sea of Cowards (2010)
The Dead Weather



Mar de Cobardes, em livre tradução - diz-se ser uma dedicatória ao mundo da internet - é o segundo albúm de originais, da super-banda The Dead Weather, depois do bem sucedido, Horehound, do ano passado. Esta banda acidental e repentina, nascida de uma jam entre os Racounters e os The Kills, aquando de uma tour conjunta. Nunca um acidente culminou num prognóstico tão positivo.

Sea of Cowards saiu no passado dia 11 de Maio, e promete colher tão boas ou melhores críticas que o seu antecessor. Dispensam-se apresentações de Jack White e Allison Mosshart, as figuras de proa deste projecto delicioso, que mistura várias influências, e uma diversidade de boas sonoridades. O primeiro avanço para teledisco é Die By the Drop, porventura a canção mais orelhuda do albúm.

Há um misto de acid-rock, com letras misteriosas e sombrias, uma voz sensual de Allison, e um mais saliente experimentalismo por parte da banda. A alternância de musicalidade torna-se mais voluptuosa do que em Horehound. Continuamos a sentir o espírito de jam, de descontracção e entrega da banda, mas num registo mais sério, e empenhado em ressalvar um "Hey, estamos aqui, e queremos marcar esta década". É um albúm que mostra uns Dead Weather mais sólidos, a evolução é peremptória.


Track listing:

1. Blue Blood Blues
2. Hustle and Cuss
3. The Difference Between Us
4. I'm Mad
5. Die By the Drop
6. I Can't Hear You
7. Gasoline
8. No Horse
9. Looking at the Invisible Man
10. Jawbreaker
11. Old Mary


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Desert Flower
Sherry Horman, 2009


Desert Flower é basicamente a história da supermodelo Waris Diries. de origem somali, que se tornou uma estrela ascendente no mundo da moda por mero acaso, mas que sofria em silêncio devido á mutilação genital a que foi submetida com apenas 5 anos de idade. Com 13 anos, Waris palmilhou um deserto por quase 500 quilómetros até Mogadíscio, capital da Somália, para fugir do casamento iminente com um homem muito mais velho.


Aí conseguiu voar para Londres, tornando-se empregada de limpeza de um Mc Donald's de Londres.
Foi descoberta aí, enquanto trabalhava, pelo fotógrafo Terence Donovan - muito prestigiado, pois fotografou para a Harper's Bazaar e Vogue, dirigiu cerca de 3000 anuncios publicitários, e ainda foi íntimo de várias personalidades que inluíam músicos, actores e a té a realeza - que a colocou na capa do Pirelli Calendar, de 1987, sendo isto uma catapulta para um sem número de trabalhos importantes.


Em 1997, retirou-se da carreira de modelo, para se dedicar totalmente ao seu trabalho como defensora dos direitos das mulheres, e tornou-se embaixadora das Nações Unidas para a abolição da Mutilação Genital Feminina, prática que é tão normal e de tradição na Somália, mas extremamente perigosa e desumana, que resulta em mortes de milhares de crianças e mulheres, que sangram até á morte. Fundou a Desert Dawn Foundation, de forma a recolher meios para a construção de um centro médico na Somália, e fazer campanha contra esta vicicitude.



No filme, quem recria Waris é a modelo da Etiópia, Liya Kebede. As semelhanças físicas entre ambas são notórias. O filme está bem conseguido, no sentido em que é a história da "gata borralheira", e em que conseguimos ter uma ideia do que as mulheres e meninas passam no seu país. Há cenas particularmente impressionantes, ainda que não explicitamente, mas que fazem sentir uma revolta interior que estas tradições completamente absurdas, fatais, e desumanas continuam em curso em vários países.






Abaixo um pequeno vídeo sobre a Mutilação Genital Feminina, na Somália:
http://www.youtube.com/watch?v=6bfzSG6Mt_M

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The Time Traveller's Wife
Robert Schwentke, 2009



Filme que data do ano passado, estreia agora nos cinemas. Uma adaptação para o cinema do best-seller homónimo de Audrey Niffenegger, publicado em 2003. O romance teve sucesso, e um transporte para a grande tela, era de prevêr. Sobre o realizador alemão, Robert Schwentke, há que salientar que foi premiado no ano de 2002, com a sua obra de estreia, Tattoo, no Fantasporto. Também é dele o thriller de 2005, Fightplan, com Jodie Foster. Neste filme, o realizador foge á sua linha cinematográfica, passando de filmes fortes de acção, a um romance-drama. Quando aos intérpretes, as personagens fulcrais ficáram a cargo de dois dos actores mais carismáticos actualmente, Eric Bana e Rachel McAdams.

A primeira cena, equaciona-nos no âmago da história, e no drama da mesma. Henry DeTamble (Eric Bana) vai no banco de trás, enquanto a sua mãe conduz e canta alegremente. Embatem de frente com um camião, o que provoca a morte da mulher, mas Henry sobrevive. Não por sorte, mas sim, pelo seu talento de se fazer desaparecer e transportar para locais aleatórios, imprevisívelmente. Sem qualquer controlo sobre esse seu lado sobrenatural, Henry vive uma vida de solitário misterioso, desaparecendo por momentos, e deixando a sua roupa para trás.


No entanto, Henry vai começar a criar laços afectivos, após conhecer Clare Abshire (Rachel McAdams) O reeencontro torna-se mais constrangedor para Henry, do que para Clare. Clare reconhece-o, e diz-lhe que ele a visitou enquanto criança e adolescente. Henry acaba por a reconhecer também, e com o desenrolar dos tempos, juntos encetam um relacionamento que dá origem a casamento. No entanto, se para Henry a sua actividade paranormal, continua a acontecer sem atenuantes, para Clare o fardo de ver o marido desaparecer subitamente nos momentos mais inoportunos, começa a pesar, e a vontade de ter um filho, gera inúmeros atritos que põem em causa a relação. Para acentuar essa crise, há um momento que indica de que maneira Henry irá morrer, da forma mais crua possível. Ambos acabam por ter uma filha, que como era de esperar, absorve genéticamente a "maldição" (ou dom), do progenitor.


The Time Traveller's Wife, acaba por ser um filme romântico, um relato de um amor atribulado, cheio de agruras, mas com estruturas diferentes do que o género hollywoodesco nos habituou. No papel que dá origem ao título, Rachel McAdams, desempenhou muito bem a sua tarefa de emocionar, e nos fazer acreditar que aquela história impossível fisicamente, estáva a acontecer, e que enquanto esposa, estáva a sofrer bastante. Depois de um papel principal em O Diário da Nossa Paixão, no qual vivia um amor impossível socialmente, mas com uma história possível, aqui "sofre" de novo, mas numa estrutura de enredo completamente distinta. Eric Bana, por sua vez, assume aqui uma vertente pouco vista em si como actor, o de homem que sofre por amor e que é amargurado com a visão do seu próprio destino.


Em suma, The Time Traveller's Wife, insere-se no género de romance, mas devido á sua vertente "fantástica" e irreal, torna-se um romance diferente do que temos vindo a assistir no cinema actual, em que a história não envolve só início, meio e fim, acompanhado de risadas fáceis e peripécias previsíveis. É mais difícil de antever.

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"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."


José Saramago
(Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 - Lanzarote, 18 de Junho de 2010)

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Soul Kitchen
Fatih Akin, 2009



Ao olharmos para o título, ao para o cartaz promocional do filme, e vermos um título de uma música de um album de 1967, e um actor principal com semelhanças físicas a Jim Morrison, poderemos ser levados a pensar, á priori, que a película se trata de um elogio aos Doors. Errado, nada de Doors, nem um cheirinho da dita música. Mas tem a ver com uma cozinha. E com as peripécias da alma. Tudo em formato comédia.



A trama desenrola-se á volta do grego Zinos (Adam Bousdoukos), proprietário de uma espécie de armazém transformado em tasca sem quaisquer tipo de condições minimamente toleráveis para a Inspecção Geral do Trabalho, num subúrbio de Hamburgo, denominado Soul Kitchen. Desde ponto de partida, há uma série de situações atribuladas, andando o futuro do restaurante de mão em mão. Zinos na fase inicial mal consegue cozinhar. É então ajudado pelo chef Shayn (Birol Ünel) que lhe ensina a arte do gourmet. O restaurante vai atraíndo clientela, mesmo não sendo de todo o típico restaurante chique de gourmet, e Zinos vai facturando cada vez mais.

Enquanto isso, a namorada parte para Xangai por uns tempos, mas retorna com um novo namorado. Entretanto, vê-se a braços com os deslizes do irmão, saído da prisão, que lhe pede para falsear um contrato de trabalho no seu restaurante. Descobre também que tem uma hérnia, conferindo-lhe um novo cambalear, o que torna a sua personagem ainda mais cómica.



Não há um grande motivo como figura de proa da história. Quanto muito, há o sonho do protagonista em fazer por manter o seu restaurante. Este filme de Fatih Akin, não pretende ser um filme de culto, nem um filme marcante. Claramente o conceito aqui é entreter, provocar o riso. E por ser tão acessível e despreocupado em termos de enredo, consegue isso na perfeição.

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24 City
Jia Zanghe-ke, 2008


Um retrato social e temporal de uma China em célere evolução será aquilo a que se poderá sintetizar este documentário de Jia Zanghe-ke. O pano de fundo recai na cidade de Chengdu, que durante décadas albergou uma fábrica de munições e motores para a Força Aérea chinesa. Vários testemunhos reais que se interpelam, culminando na demolição total do espaço onde essas histórias se desenvolveram, em diferentes espaços cronológicos.

Essas ruínas, imbuídas de memórias, que nos são trazidas pela mão de três gerações diferentes, servirão para a evolução económica da cidade, erigindo, aí, um complexo habitacional moderno e hotéis portentosos: a Cidade 24.






Jia não pretende facultar visões políticas. O realizador pretende mostrar o lado humano, o lado do coração, e as emoções vigentes nas recordações de quem passou pela fábrica, e também dos descendentes vindouros que subjacentemente foram afectados, o impacto que o avançar do interesse ecomómico tem numa cultura, numa família e numa vida. Jia é um cronista visual da China galopante no espaço evolutivo. Ao longo dos anos, Jia vem mostrando os passos de um país em constante revolução interna. Desde "Still Life" ou "Plataforma", os trabalhos mais marcantes do cineasta.

Um país com um forte traço capitalista, mas ainda em choque com um comunismo disfarçado. É isto, a Cidade 24. China pós-revolução, com acompanhamento sonoro de músicas Pop, ganhando estas outra dimensão quando adjacentes a passagens de memória, e aos poemas intercalantes do irlandês W. B. Yeats, carregados de um simbolismo protuberante.



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George: [last lines; voiceover] A few times in my life I've had moments of absolute clarity, when for a few brief seconds the silence drowns out the noise and I can feel rather than think, and things seem so sharp and the world seems so fresh. I can never make these moments last. I cling to them, but like everything, they fade. I have lived my life on these moments. They pull me back to the present, and I realize that everything is exactly the way it was meant to be.

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