| 2 bolachas ]

Para mim, escrever é um acto que geralmente empreende um mau sentimento, uma revolta, um angústia qualquer. É isso o motor da minha escrita. É essa inspiração malígna que me faz correr as palavras no sangue. É incrível que coisas positivas, que nos trazem alento á alma, nunca me lembram de as imortalizar em palavras, quer faladas, quer escritas. Fico demasiado abstraída pela sua magnitude, e regozijo-me a comtemplá-las em vez de retratar para o futuro.

Neste momento em que escrevo, e sem fugir á regra que enunciei anteriormente, a escrita encarrega-se de me aliviar um pouco o espírito. Mas não venho eternizar mágoas. Hoje, o que me move é o fim de algo, e por esse algo ter sido tão mágico, sinto que devo escrever sobre isso.

Neste momento, estou perdida. Sinto-me perdida num barquinho em águas turvas e revoltas, imbuídas numa escuridão assustadora e sem fim á vista, de novo.

A vida é isto. Este mar negro, e este barco pequeno e prestes a ser engolido a qualquer momento. Mas há uma certa altura da vida em que pensamos que encontrámos um marujo igual a nós, que nos acompanha no mesmo barco desengonçado, e que nos dá força para aguentar o medo da escuridão e do mar bravo. Estamos os dois a remar no mesmo sentido, ainda que num barquinho roído e podre, e falível, ambos queremos remar para fora dali. Parece-nos o ideal, e a escuridão aos poucos vai-se afastando, no nosso âmago já não temos qualquer vestígio de medo. O outro marujo fez-nos ver que a escuridão só servia para assombrar e nos fazer recuar, do que possívelmente depois dela, estaria, algo paradisíaco, onírico. Com a força nos remos de ambos, conseguimos atingir isso. Ou, pelo menos, na minha vista velha e cansada, vi um farol brilhar incessantemente. Não parou de me guiar, e eu não hesitei em deixar-me guiar. O marujo e o farol fizeram-me continuar e sair da escuridão.

Hoje o meu marujo desapareceu, e o farol desfez-se na neblina. Hoje desisti de remar e o meu barquinho afundou-se comigo.

2 bolachas

S. disse... @ 6 de julho de 2010 às 10:43

excelente.

é estranho não é? a mim também só me dá para escrever sobre o que me atormenta regra geral... ou algo que teve um significado muito profundo para mim.

much love, keep it strong*

Mariana Lima disse... @ 17 de agosto de 2010 às 15:58

gostei muito.

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