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Vejo os dias a passar como slides, nas paredes brancas estáticas que tenho á frente. São vazios e iguais. Não ressalta qualquer pigmento de cor. A luz que nasce e morre, é o seu ponto de ruptura.

Quero tocar-lhes e fazer deles, meus. Estão longe. Estão a girar á minha volta, agora. Consigo vê-los. Emergem as amarras por dentro, e não consigo chegar-lhes com as mãos. Continuam em carrossel, usando-me como eixo. Vou desmaiar.

Cá dentro, uma mola aperta o coração. Demasiado sangue concentrado neste orgão. Nenhum sangue chega á cabeça. Tonturas. Uma névoa as sobrevoa. Palavras trémulas tentam brotar.

O pensamento é tépido. Nem quente nem frio. Apatia. O peito dói. A dor física.

Mais uma estalada. Um choque. Electricidade corrosiva no pulsar sanguíneo. Revolta. Luta interior feroz. Golpes. Perguntas repetidas ao expoente máximo da exaustão. Estou a sugar-me para dentro de mim.

Quero sair de mim. Não posso ficar comigo. Saio de mim. Vejo-me, exteriormente. Pena, humilhação.

Volto para mim ao fim do dia, porque é preciso. Tenho medo de estar sozinha comigo. Inquietude. Insónia. Reprodução fictícia em sonho. Um pestanejar e a ficção dormente coaduna-se a uma espécie de ficção real.

A luz nasce. Um novo slide.