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Há músicas que nos perturbam... Uma das minhas, é esta.
Ligo-a a uma transição bruscamente repentina na minha vida, do muito bom para o estupidamente mau, e cada vez que ouço isto, a minha memória sem pedir licença rebusca imagens em camera lenta, as quais o destino tornou indissociáveis. Em partes da música, lembro-me do que era bom, noutras mais soturnas, lembro-me do mau que passei, estando esta música presente em ambos os cenários, e consequentemente interligando-os com um vertiginoso desfasamento de um para outro.

Por instantes, projecta-se uma curta-metragem no meu pensamento, com diálogos, mas tudo á capela, sem guiões. Pois assim é que se vê a química dos actores. Com direito a um daqueles finais esquesitos em que ficamos sem perceber o que teria esse culminar, a ver com o enredo a que sucedeu. E nos perguntamos também, se com um final tão vago e inconcebível, isso apontará indiscutívelmente para uma sequela, para que o final decisivo fosse digno do conjunto de cenas que o antecedeu, mesmo que para isso, a película acabasse em tom amargo.
Sempre preferível ao vácuo do silêncio. O que estava em causa era que a efémera história em si fizesse sentido com o corte. E que o bom não entrasse em fade-out num ridículo desenquadramento, sem se ter pelo menos uma nota de rodapé, a explicar o porquê.

A sonoplastia desta curta-metragem esteve a cargo dos dEUS, com esta música que vai dizendo que nada realmente acaba. Balelas. Para o meu caso, calhava melhor uma do género "Nothing Really Starts".
Houve mais alguns. Um deles, o Tom Waits. Mas esse, assinou invariavelmente a banda-sonora da primeira parte da curta-metragem. Por isso cessei de o ouvir na segunda parte. Para que ficasse de mão dada só com os bons momentos.


O que temos de bom na memória, é que enquanto visionamos os nossos filmes pessoais, se consegue ir além do exclusivamente visual, mas também se percepcionam outras sensações que não apenas a visual, ou a auditiva, e que mesmo sabendo que aquilo agora não passa de um filme, há a satisfação de que não foi ficção, cada parte aconteceu daquela exacta maneira e sempre temos a fita completa, para o bem e para o mal.